sábado, 9 de fevereiro de 2008

A Unidade Urbana

Um dos problemas mais graves do urbanismo e da arquitectura actuais é a unidade urbana. Essa harmonia de prédios, de volumes, alturas e espaços livres que constitui a arquitectura de uma cidade.

O problema é antigo e tão importante que em épocas passadas, na França por exemplo, ao se criar uma praça e nela construir um palácio, construía-se, ao mesmo tempo, as fachadas dos futuros prédios nela previstos.

Isso mostra como era importante o problema da unidade urbana, problema que com o correr dos tempos foi sendo esquecido e hoje completamente desprezado. Daí resultou essa confusão arquitectónica em que vivemos, desfigurando os conjuntos urbanos de todas as cidades modernas.

É evidente que, antes, a própria simplicidade construtiva, a repetição natural de velhos elementos da arquitectura, a regularidade de volumes, alturas etc., permitiam aquela unidade tão desejada, condições favoráveis hoje desaparecidas diante da imensa variedade de formas e materiais de que dispõe a arqui- tectura contemporânea. É claro que isso não serve de pretexto, nem impede que os responsáveis pelas nossas cidades sejam mais integrados no problema. Fácil Ihes seria, se estivessem realmente interessados no assunto, criar normas protectoras, definindo volumes, alturas, cores e materiais de acabamento, decisões canazes -como um denominador comum -de manter a unidade desejada.

Mas nada disso ocorre e a confusão existente é aceite e permitida sem discussão. Ao projectar seus edifícios o arquitecto esquece a relação que deveria existir éntre eles e o ambiente no qual serão inseridos e a ideia do show arquitectural prevalece e a unidade urbana, já tão ofendida, ainda mais se agrava.

Estas explicações não visam sugerir ao arquitecto uma limitação arquitectónica que o desacerto existente não pode exigir, mas apenas lembrar o problema. Um problema que desmerece nossas cidades e sobre o qual um dia poderão ser chamados a opinar.

Na arquitectura de Brasília esse problema nos preocupou. A ideia era dar inteira liberdade (respeitados afastamentos, volumes e alturas estabelecidos) aos prédios isolados, procurando manter a unidade arquitectural -como no sector bancário por exemplo -, recomendando a utilização dos mesmos aca- bamentos externos, cores, etc., dentro dos volumes pré-fixados.

No resto nenhuma regra impusemos, mesmo quando acontecia de a solução não nos agradar.

In Conversa de arquitecto, Oscar Niemeyer – 1993 – ISBN 972-610-036-4

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