terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O LUGAR como armadilha

O LUGAR como Armadilha Este texto é o resultado de uma reflexão que se fez mais especulativa do que crítica, à volta do tema LUGAR e sua relativa exaustão, a partir da reflexão e procura de representações simbólicas de Macau e do seu estado de contemporaneidade e de ultra-urbanização. Interessa interpretar o tema LUGAR como um meta-conceito: Através da definição da sua condição conceptual no extremo. Todo e qualquer lugar é carregadamente caracterizado pela sua objectividade inalienável, por tudo aquilo que o eleva de espaço a Lugar. Para atravessar esta fronteira, escolhemos uma única característica definidora de Lugar, simultaneamente genérica e objectiva: A ideia de que, quando pertencemos a um Lugar, estamos presos nele (a ele), qualquer que ele seja. Que há um sistema de fascínios que nos detém (no) ao lugar. Lugar enquanto Armadilha: a nossa experiência quotidiana, visual e sensorial funciona como um contínuo estímulo de preservação comportamental. Todos os conceitos de estabilidade e preservação estão associados à noção de lugar (território). O verdadeiro acto de viajar é um abismo, e por tal, pode-nos libertar de nós próprios: será que realmente viajamos, quando viajamos? Ou apenas reconhecemos sistemas de imagens familiares à nossa imaginação ARMADILHAda, como nas interrogações de Marcel Proust: quantas vezes temos de viajar até aprendermos a viajar? Apenas temos uma compreensão conceptual de um Lugar, quando nos conseguimos afastar (libertar) do dito Lugar: quando perdemos a saudade de o ausentar, e o vício de o desejar. Quando o lugar se emancipa de nós ou vice-versa. A Armadilha no Lugar: nem sempre a armadilha está escondida. A ideia de Lugar dá-nos por um lado a noção de identidade e orgulho de pertença, o lugar é essa ferida de onde vimos – cette blessure d où je viens – como uma cicatriz da noite; e no seu próprio reverso, (A ideia de Lugar) constrói em nós, como uma ARMADILHA, uma colagem do indivíduo ao seu comportamento cultural, às permanências, idiossincrasias, lugares comuns. Desde a opinião ao vestir, o que nos retém, nos define e identifica, passa por esta amarração ao lugar. Quando a forma melhor e mais barata de se sair de um lugar é sair virtualmente pelo ecrã de televisão: a libertação visual bidimensional é um vício de fuga sem fugir (para além dos seus outros 888 significados), é uma ficção de liberdade… A nossa relação fenomenológica com o real está condicionada pela impossibilidade de nos distanciarmos sistematicamente do nosso mundo, sem nos alienarmos dele. Também por isso, a capacidade de relativizar e desmultiplicar a noção do nosso LUGAR, não nos leva à esquizofrenia, mas a um estado de maior libertação. A cidade pode ser entendida como uma colecção de sítios maravilhosos que provocam o desejo e as fantasias mais inconfessadas das pessoas. Esta capacidade de encantar desencadeia o magnetismo que nos fixa aos lugares. A Armadilha torna o perigo atraente: a cidade é essa armadilha irrecusável.


Rui Leão, arquitecto
Caros Colegas penso que este artigo retrata qualquer coisa de util...
Um bem haja a todos...
Ana Do Vale

1 comentário:

Unknown disse...

e... a Lusíada como armadilha????